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Um blogue dedicado ao Incomparável Nasrudin, que quer reunir o maior número possível de histórias de e sobre o grande personagem. Envie a sua.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Momento 01


Nasrudin, o Incomparável


Mulá Nasrudin é espantosamente único. Único na história do humor, único na filosofia e na metafísica, único na literatura e na história da comunicação. A primeira grande surpresa, o deslumbramento de quem conhece o Mulá é justamente a percepção de que nada ou ninguém a ele se assemelha ou se compara. Recebeu por isso a alcunha de O Incomparável. E, assim como o primeiro amor ou o primeiro beijo, diz-se que o primeiro contato com Nasrudin nunca se esquece.

Personagem de anedota, de história popular passada de boca a boca, Nasrudin atingiu proporções gigantescas. Conquistou povos, um atrás do outro, através dos séculos, misturou-se ao folclore de muitos deles, andou pelos circos, teatros, cabarés, esquetes de rádio e TV, ganhou antologias em todas as línguas, versões poéticas e cinematográficas, frequentou as galerias de arte no traço de grandes artistas, voltando sempre à rua, à alma e ao coração dos povos nos quais se revitaliza e redimensiona. E assim chegou o mulá até nossos dias, ele que nasceu em terras distantes lá pelos séculos IX ou X. Assim chegou o mulá, presente em todas as grandes lutas sociais e políticas da humanidade, em todos os avanços do pensamento, guerreiro poderoso contra os opressores e a lógica grosseira que embrutece os homens e corrompe as relações em sociedade, vencendo barreiras geográficas, culturais e religiosas.

Estava lá na Alemanha, na Segunda Guerra, nos cabarés onde encontrou o maior de seus intérpretes, o palhaço Karl Valentin, apelidado por Bertolt Brecht de O Palhaço Metafísico, justo por sua atuação como Mulá Nasrudin. Estava na Revolução Francesa. Lutou contra as ditaduras que avassalavam a América Latina. E personificou os mais altos ideais da humanidade quando Cervantes, que jamais negou sua dívida com uma fonte árabe, nele inspirou-se para a criação de Dom Quixote. Há no Dom Quixote passagens inteiras de Mulá Nasrudin.

Mas foi de novo o povo e não os intelectuais do Oriente ou do Ocidente quem melhor soube amá-lo. Foi a gente da rua que o elegeu, o imortalizou e o adotou como membro da família. Há sempre uma imagem de Nasrudin feita de argila, louça, madeira ou metal, exposta na sala principal da maioria dos lares orientais. E nela, não raramente, o mulá segura uma chave. É que ele é também chamado de O Dono da Chave. E por isso se crê que é o grande porteiro e guardião da casa. Porém os sufis, os grandes criadores do mulá e dos quais falaremos mais tarde, afirmam que a chave guardada por Nasrudin é a do próprio sufismo. Ninguém percorre os caminhos do sufismo a não ser pedindo-lhe passagem.

A chave é um tema recorrente em Nasrudin. Uma de suas histórias mais conhecidas conta o seguinte:


A Chave

Voltando certa vez para casa, á noite, um vizinho encontra o mulá de quatro no chão, como se procurasse algo.
- Perdeu alguma coisa, Nasrudin?
- Oh,sim. – responde ele – Minha chave. Já fiz de tudo e não consigo encontrá-la.
O vizinho, que era uma pessoa generosa, solidária, põe-se também de quatro com Nasrudin, para ajudá-lo a encontrar a chave. Passam-se vinte, trinta minutos, e o vizinho volta a perguntar:
- Tem certeza de que a perdeu aqui?
Responde o mulá:
- Aqui? Não. Eu a perdi lá em cima, perto de minha casa.
- Mas então por que razão nós a estamos procurando aqui? Pode por acaso me esclarecer isso?
E o mulá:
- É que aqui há mais luz. Como queria que eu encontrasse o que quer fosse naquela escuridão toda lá de cima?


Estaria Nasrudin, nesta história, que é uma das suas mais famosas, nos entregando a primeira das chaves sufis: Não adianta procurar onde não há luz ?


Nasrudin, origens e lendas

A origem de Nasrudin é desconhecida. Não se sabe ao certo como e onde ele nasceu, mas vários são os países que disputam a glória de tê-lo como filho, entre os quais estão a Turquia, a Bósnia, o Irã, Marrocos, Armênia, Egito, Síria, Paquistão, Turquestão, Líbano, Bulgária e não sei quantos mais.

Nasrudin ou Nars Uddin deve ter surgido pelo século IX, mais ou menos, muito embora a primeira antologia de suas anedotas só tenha sido publicada no século XIII, sob o título As Sutilesas do Incomparável Mulá Nasrudin. Ele é conhecido por Mulá Nasrudin ou Nasrudin Hodja. A palavra mulá significa, em árabe, um erudito, versado mais específicamente nas Escrituras islâmicas. Ao passo que um hodja é uma espécie de mestre-escola, professor de instrução primária, mestre de primeiras letras.

Não se sabe se um dia chegou a existir alguém com esse nome, mas a lenda afirma que sim. Uma versão diz que ele nasceu no distrito de Bivrihisar, na Turquia, embora outro lugar no mesmo país, a cidade de Akcheir, também o reivindique. E Akcheir celebra, em sua honra, um festival anual, ao qual acorre gente de todo o mundo. Numa outra versão Nasrudin era um sábio de Bagdá, no século X, que acusado de heresia fingiu-se de louco para escapar à forca. E muito embora não seja esse um personagem estranho à História, homens que confundiam-se propositadamente com loucos afim de manterem a coerência ideológica e religiosa em tempos adversos e se permitirem até gritar nas ruas contra os reis, sacerdotes, e todo tipo de opressores – e são chamados no sufismo loucos por Deus ou loucos de Deus - esta não é a versão mais aceita sobre Nasrudin. Uma terceira lenda dirá que o mulá viveu na Anatólia na século XIII, justo quando surge a primeira antologia.

Sem pistas sobre o nascimento e a vida, os autores dirigirão toda a atenção à morte de Nasrudin em busca de vestígios de sua existência real entre nós. Um túmulo muitas vezes citado, muitas vezes descrito até como local de peregrinação, mas que por alguma razão nunca se diz onde se localiza, em que cidade ou país. O túmulo de Nasrudin possui uma grande porta de ferro, amarrada por correntes de grossos elos, muito embora a porta nunca se feche. E muito embora não haja parede alguma. Isso porque Nasrudin sempre dizia que as suas portas estavam abertas aos inimigos e fechadas aos amigos. No alto da porta, local em geral reservado à inscrição tumular, Nasrudin tratou de colocar um número: 386., número que se tornou uma verdadeira obsessão entre os analistas e estudiosos de Nasrudin.

O primeiro grupo deles acreditou tratar-se da data de morte, ano 386 do calendário muçulmano ( que começa a ser contado a partir da Hégira, partida do Profeta Maomé para Medina, no ano 622 da era cristã ), ou 1008 do nosso. Porém isso não foi tomado como definitivo, e um segundo grupo entendeu que como Nasrudin afirmara que tinha vindo ao mundo de pernas para o ar , este numero deveria ser invertido, chegando-se assim a 683, este, sim, o ano muçulmano de sua morte. Mas ainda um terceiro grupo, utilizando-se de um método islâmico-ocultista muito comum entre os sufis, e que estabelece uma correspondência entre os números e o alfabeto árabe, transpôs 386 ( 300 + 80+ 6 ) em letras, para chegar à palavra shawafa, que significa mostrar alguma coisa a alguém ou fazer ver. E por muitos anos a poeira do túmulo de Nasrudin foi considerada poderosa na cura das doenças dos olhos .

Mas é entre os sufis que corre a versão mais extraordinária acerca de Nasrudin. Trata-se de uma alegoria que conto o seguinte: Nasrudin certa vez _ tal como acontece a todos os incautos _ foi feito refém do Velho Vilão . E o Velho Vilão é uma personificação do sistema grosseiro de pensamento que domina o mundo, impedindo o homem de ver as coisas claramente, adormecendo-lhe a consciência e corrompendo-lhe o espírito. E Nasrudin tornou-se então seu escravo e discípulo.

Um dia, passando por uma praça, Houssein, o fundador do sufismo, viu uma grande confusão formada, um grande ajuntamento. E o nome Houssein significa literalmente graça. É também um nome sagrado no islamismo, porque assim se chamou o neto do Profeta Maomé, filho de Fátima e do Califa Ali e mártir maometano, e é possível que, de certa forma pretenda também lembrá-lo. Mas aparece aqui principalmente como outra personificação: da própria graça.

Houssein, então, aproximou-se. E lá estava o Velho Vilão, seu arquiinimigo, incitando seus discípulos à piada, enquanto em torno uma platéia improvisada gargalhava com grande estardalhaço. Mas o espetáculo que tanto agradava à multidão, para Houssein não passava da triste exibição dos preconceitos, da grosseria espiritual, da mediocridade e dos vícios mentais de seus autores, pois o riso, que pode ser grandioso, é, às vezes, a dolorosa manifestação dos sentimentos mais inferiores do homem.
Porém, Houssein permaneceu ali um tempo, misturado a multidão. Um a um, viu os discípulos do Velho Vilão se apresentarem, para delírio da platéia. Até que chegou a vez de Nasrudin. E Houssein ouviu a voz tonitroante do Velho Vilão dizer, entre risos:
_ Nasrudin, por tua irreverência, eu te condeno ao ridículo universal.
E todos riram.
_ De hoje em diante, cada vez que contares uma de tuas ridículas histórias – continuou o Velho – mais seis terão que ser contadas, até que sejas visto como aquilo que realmente és e nunca deixarás de ser : uma figura de piada!

E Houssein saiu dali meditando acerca do que vira. Acerca das anedotas, de Nasrudin, das possibilidades infinitas de criação e de demolição do humor. Há tempos ele vinha procurando alguém _ um mestre, um professor, digamos _ que pudesse levar ao mundo, de geração em geração, a sua doutrina. E já havia revirado o mundo em busca deste homem. Então Houssein teve uma súbita inspiração. Compreendendo que cada mal contém em si o próprio remédio, resolveu combater o Velho Vilão com seu próprio método, a anedota. E naquela noite, enquanto Nasrudin dormia, Houssein adentrou seus sonhos, e, nesta visita, deu-lhe parte de sua baraka _ seu poder espiritual, graça, carisma, atributo dos mestres sufis que pode ser passado, por escolha própria, a um de seus eleitos, total ou parcialmente.

_”A partir daí _ conta Idries Shah, no livro Os Sufis _ todas as histórias de Nasrudin passaram a ser obras de arte independente. Podiam ser compreendidas como piadas, tinham um significado metafísico,, eram infinitamente cmplexas e partilhavam da perfeição roubada à consciência humana pelas atividades corrosivas do Velho Vilão.”

Nasrudin saiu pelo mundo levando a mensagem sufi. E, como o Velho Vilão o tivesse condanado a sete anedotas sucessivas, Houssein deu-lhe graça igual. Entre os sufis, sempre que se conta uma história de Nasrudin, o grupo se encarrega de contar outras, até que somem sete. E a lenda afirma que sete anedotas estudadas em sucessão são suficientes para introduzir o candidato no mundo mágico do sufismo. Nasrudin tem a baraka. Por isso ele é o que é.


As Histórias:



CADÊ?

Nasrudin pregava sobre Deus, quando um engraçadinho, aproximando-se do púlpito, o interrompeu dizendo:
- Ô, Nasrudin, você fica aí falando de Deus, mas porque êle não vem falar diretamente a seu respeito? Se ele existe mesmo, onde, está? Mostre-me êle e eu acreditarei.
Nasrudin, mais que depressa pegou um bastão e desfechou um golpe tremendo na cabeça do outro, que gemeu.
- Ái, ái, ái, Nasrudin. Falávamos de Deus e você me dá uma paulada destas na cabeça? Ái, - que dor!
E Nasrudin
- Dor? Se a dor existe mesmo, onde está? Mostre-me a dor e eu acreditarei.




QUÍMICA
Um dia um amigo de Nasrudin o surpreendeu com uma colher batendo as águas do Lago Akshir.
- Nasrudin - disse o amigo - o que você está tentando fazer
- Estou tentando fazer com que as águas do Lago Akshir virem iogurte. Já botei o limão.
- Mas você acha que vai dar certo?
- Acho que não. Mas já pensou se der?



APELIDOS
Conversavam, Nasrudin e Tamerlão, quando este lhe disse:
- Todos os califas abássidas recebem um apelido. Al-Mustansir quer dizer “com a ajuda de Deus”, Al Nau’tasim quer dizer “o que procura refúgio em Deus”. E eu? Se eu fosse um deles? Qual seria o meu apelido
Diz Nasrudin:
- “Tamerlão Deus - nos - livre”.



O PREÇO
O sultão Tamerlão conquistador mongol, convidou Nasrudin para acompanhá-lo à casa de banho. E em certo momento perguntou:
- Nasrudin, se eu fosse um escravo, quanto você daria por mim?
- Cinqüenta dinheiros - respondeu ele, sem titubear.
- O quê ???? - reagiu Tamerlão - Só a toalha que eu estou usando vale isso!
- Bom, eu sei. Mas daria cinqüenta pelos dois.



MISTÉRIO
Nasrudin, um dia, foi surpreendido tentando roubar cebolas - O que você está fazendo, Nasrudin? - perguntou, áspero, o dono da plantação.
- Eu ia passando na estrada e de repente soprou um vento muito forte que me arrastou até aqui? - respondeu Nasrudin.
- Ah, é? E quem arrancou as cebolas?
- Pois é, desculpe. mas o vento era tão forte que me agarrei nelas par ver se não saía por aí voando a cidade inteira - continuou Nasrudin se justificando.
- Hum - disse o outro - E como é que foram parar dentro do saco?
Eu estava justamente me perguntando isso quando o senhor chegou.
LÁGRIMAS AMARGAS
Tamerlão recebeu de presente no palácio um espelho de platina, e mal olhou-se refletido, seus olhos encheram-se de lágrimas, Nasrudin, a seu lado, pôs-se também a chorar convulsivamente. Diz Tamerlão:
- Agradeço sua solidariedade, Nasrudin. Quando me olhei no espelho, me achei tão feio que chorei. Mas vamos pensar em outra coisa.
Nasrudin, porém, continuava a soluçar.
- Nasrudin. Nasrudin. Para de chorar. Que coisa! Não vê que eu mesmo já parei?
E Nasrudin:
- Ah, é ? Ver seu rosto no espelho por menos de um minuto o entristeceu por um instante. Agora, imagina eu, seu servo, obrigado a olhá-lo o dia inteiro.




10 comentários:

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